Pentecostes





PENTECOSTES
Esta Festa, celebrada cinquenta dias depois da Páscoa (daí o seu nome), coincidia com a Festa das Colheitas, a Festa das Semanas em que se ofereciam a Deus as “primícias” (primeiros frutos) das colheitas. Depois do exílio, passou a comemorar a Aliança do Sinai, com uma grande peregrinação a Jerusalém.


LUGAR
O Pentecostes tem lugar numa dependência de uma casa de Jerusalém, designada por “cenaculum”, sala de jantar. Trata-se da peça de recepção situada no andar (acima dos apartamentos privados do rés-do-chão) em que se organizavam as refeições.
Há uma tradição que associa esta peça à dependência em que Jesus celebrou a Páscoa com os seus discípulos e a uma das aparições do Ressuscitado (Jo 20,19).
Em todo o caso, é uma dependência fechada, o que faz do Pentecostes uma cena de interior.


COMPOSIÇÃO DA CENA
Fixando-nos nesta belíssima miniatura do “Saltério da Rainha Ingeborg (1220)”, percebemos, imediatamente, que o autor quis associar a cena da “Ascensão do Senhor” (40 dias depois da Páscoa) ao “Pentecostes” (50 dias depois da Páscoa) e dizer-nos que “O Senhor que subiu ao Pai” (no alto) e o Espírito que desce sobre a sua Igreja (em baixo) são inseparáveis.


Segundo o pensamento de S. Leão Magno, a Ascensão é inseparável do Pentecostes e estes dois eventos são fundamentais para a vida da Igreja: “É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se Eu for, Eu vo-lo enviarei (Jo 16,7). E ainda no evangelho de Lucas, Cristo antes de subir ao Céu promete: “E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu”, isto é, o Espírito Santo (Lc 24,49).



PARTICIPANTES
Os Apóstolos estão reunidos em companhia de Maria (representada no centro da miniatura).
O Espírito Santo, sob a forma de pomba, derrama sobre cada um deles linhas de fogo, claramente representadas pelo pintor.
Examinemos, agora, cada um e particular, começando pelo protagonista, o Espírito Santo.



Espírito Santo
O Espírito Santo, representado sob a forma de pomba, como habitualmente, ocupa o centro geométrico da composição. Pássaro de Vénus na Antiguidade, a pomba converteu-se em símbolo do Espírito Santo a partir do texto relacionado com o Baptismo de Cristo: “Quando (Jesus) saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como pomba (Mc 1,10). Em geral a pomba significa o sopro divino que inspira os que escrevem (Evangelistas); anuncia a Boa Nova (Anunciação).

Tanto no episódio da “Anunciação” como no “Pentecostes” desta miniatura medieval a pomba é representada de asas abertas, bico para baixo e “em picada” sobre Maria e os Apóstolos, o que traduz a irrupção do Espírito.

Outro elemento associado ao Espírito são as “línguas de fogo”, que devem ser interpretadas em sentido simbólico. O fogo foi sempre símbolo de presença da divindade, como no episódio da “sarça ardente” (Ex 3,2).

Por outro lado, a forma de uma língua de fogo evoca certamente a missão da pregação dos Apóstolos, que se serviam da sua língua para anunciar o Evangelho.
Por isso, os pintores ao representarem a cena do Pentecostes incluem sempre este pormenor, ainda que de forma variada:
Chamas isoladas, em feixe, ou raios curvos, que pousam sobre as cabeças de Maria e dos Apóstolos, como a presente miniatura.

Maria
Bizâncio e Ocidente coincidem em atribuir a Maria o lugar central da cena do Pentecostes, ainda que não coincida com o papel central. O Protagonista será sempre o Espírito Santo. A Sua presença não se menciona explicitamente no texto dos Actos dos Apóstolos que narra o evento (Act 2, 1-41).

A única justificação da presença de Maria é uma passagem do capítulo que precede o relato do Pentecostes: “Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente… E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus” (Act 2, 13-14).

Portanto a sua presença é uma simples suposição que os teólogos admitiram e logo se impôs aos artistas que, em contágio com a cena da Ascensão, representaram Maria no meio dos Apóstolos.

Observando o panorama das representações do Pentecostes distinguimos dois tipos: com Maria e sem Maria.
O primeiro modelo, conhecido já no séc. IV, tornou-se mais frequente no séc. XII, como confirma a miniatura do “Saltério de Ingeborg”. Maria está na perpendicular do Espírito Santo, sob a forma de pomba. Veste túnica vermelha e manto azul, cobre a cabeça com pano branco e está coroada com a coroa de Rainha porque, segundo a tradição antiga, era considerada a mãe adoptiva de S. João e, simultaneamente, a rainha e mãe espiritual dos doze (Regina et Mater Apostolorum), Mãe e Rainha dos Apóstolos.
Além disso, muitas vezes, é identificada com a Igreja:
Ela é símbolo da unidade da Igreja Apostólica.

APÓSTOLOS
Estão repartidos em dois grupos de seis de cada lado de Maria.
Do conjunto dos doze o artista que realizou a miniatura quis individualizar três, com notas iconográficas próprias:
S. João, S. Pedro e S. Paulo.

S. João
Aparece representado como um jovem homem imberbe.
Mas a grande novidade iconográfica está relacionada com a posição dentro da cena. Está ao lado direito de Maria, lugar que habitualmente é ocupado por Pedro. 
Na cena do Pentecostes, a fim de realçar a sua filiação adoptiva, é S. João que está no lugar principal, derivado das palavras da Escritura: “Mulher, eis o teus filho. Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe” (Jo 19,26)

S. Pedro
No lado oposto a S. João, é o que está mais próximo da “Regina Apostolorum” e associado à figura de S. Paulo, em perfeita cumplicidade como confirmam os gestos das próprias mãos.
S. Pedro é o apóstolo dos judeus;
S. Paulo, dos gentios.
Ambos recebem o título de “Príncipes dos Apóstolos”. 
S. Pedro é figurado com atributos iconográficos próprios: cabelos curtos e barba branca arredondada.

S. Paulo
Dotado de barba muito próxima à de S. Pedro, mas mais comprida.
A espada, o atributo iconográfico mais comum, é substituída pelo livro das suas cartas.
S. Paulo está regularmente presente na cena do Pentecostes, não tanto por razões históricas, pois converteu-se em tempo posterior, mas por razões teológicas. Paulo não fez parte dos companheiros históricos de Jesus, mas foi sempre considerado como “Apóstolo do Evangelho de Cristo” e fundador de Comunidades. É natural que figurasse na representação do momento inaugural da pregação apostólica.





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