Juízo Final





JUÍZO FINAL

AUTOR: João e Nicolau
DATA: final do séc. XI
MEDIDA: 2,42 - 2,89 m
LOCAL: Pinacoteca do Vaticano (Città del vaticano)



"Chegou a Hora 
em que este mundo vai ser julgado!" 
(Jo 12, 31)


O painel do "JUÍZO FINAL" da Pinacoteca do Vaticano apresenta uma forma estranha, adaptada, com certeza, ao espaço que lhe fora reservado. Trata-se de um grande disco de madeira de dois metros e quarenta e dois centímetros de diâmetro (2,42 m). A altura total é de dois metros e oitenta e nove centímetros (2,89 m).

Foi descoberto por D. Redig de Campos, antigo conservador dos Museus do Vaticano, nos finais dos anos 30. Mesmo depois da sua descoberta, mantêm-se muitas interrogações quanto às origens, função e datação. Diversas propostas apontam para o final do século XI, tal como o famoso Juízo Final de Torcello.

Foi executado por dois pintores de nome João e Nicolau, da escola beneditina, que quiseram deixar impressa a sua assinatura. Estes dois artistas trabalharam por encomenda de duas mulheres, Benedita e Constança, abadessa do convento de Santo Estêvão e de S. Paulo, em que eram particularmente honrados. 

Está dividido, como habitualmente, em cinco registos, cuja base descansa numa espécie de predela rectangular. 

No registo superior apresenta-se o Cristo, de nimbo crucífero, inscrito numa auréola circular, sentado sobre o arco do céu, sob um fundo de estrelas. Não mostra as suas chagas. Na mão direita tem um pequeno dístico com a inscrição: "Ecce vicimus mundum", num plural majestático de sabor romano. Na esquerda, ostenta uma Cruz de longa haste, decorada com pedras preciosas. É flanqueado por dois serafins de seis asas e dois anjos.

No registo seguinte, abaixo, reaparece o Cristo, em busto, com semblante de Salvador, no momento de mostrar as chagas das mãos e do lado e com os braços elevados. Está colocado atrás de um altar, onde estão colocados os instrumentos da Paixão: a Cruz, o vaso de vinagre, os quatro cravos, a lança, a cana com a esponja e a coroa de espinhos. Ao lado da Cruz está o Livro da Vida que contém os nomes dos eleitos. Aos lados de Cristo estão duas "Potestades" que mostram duas filacteras com os textos do Evangelho de Mateus 25, 34-45: "Vinde, benditos do meu Pai... Afastai-vos de mim, malditos..."




Ao lado das Potestades aparecem os Apóstolos, seis de cada parte. S. Pedro com as chaves, com barba arredondada, S. Paulo no lado oposto, com barba pontiaguda. 

No terceiro registo, no sentido descendente, à esquerda temos os eleitos que avançam guiados por S. Paulo - recorde-se que o convento lhe estava dedicado - pelo Bom Ladrão e por Maria, numa atitude de intercessora. O Bom Ladrão segura a sua cruz, em que está escrito o seu nome, Dimas. S. Paulo mostra uma cautela em que se lê: "Soarão as trombetas e os mortos ressuscitarão". 

No grupo dos eleitos, as três figuras da frente são um diácono com o livro, um soldado com a "penula", um sacerdote com a casula. Ao centro, debaixo do altar, estão os Inocentes, com as suas vestes novas e todos com uma palma nas mãos: "Foi dada a cada um uma veste branca e foi-lhes dito que esperassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos seus companheiros de ministério e dos seus irmãos que iam ser mortos como eles" (Ap 6, 11). É isto que se lê no livro que um deles mostra bem alto. Entretanto, aproxima-se Santo Estêvão - o segundo padroeiro do convento - o primeiro no martírio, também ele vestido com a cândida veste e com a palma. À direita, encontramos quatro obras de misericórdia: um sacerdote, com tonsura e nimbado, opera as duas primeiras obras: dá de comer e beber ao pobre. A terceira obra boa, visitar os presos, é levada a cabo por um soldado, também nimbado; a quarta, vestir os nus, por um jovem, também nimbado. A legenda em baixo comenta cada uma das cenas. 

O quarto registo é dedicado na totalidade à Ressurreição dos mortos: à direita, longe de Paulo que o tinha anunciado, dois anjos tocam as trombetas sobre os mortos que saem dos seus túmulos; à esquerda e ao centro, o mar e os seus peixes, a terra e os animais selvagens restituem as suas presas; em presença das alegorias do "Mar e da Terra", duas mulheres nimbadas e nuas em metade do corpo, sentadas sobre uma espécie de hipocampo e de um touro. Uma e outra mostram uma "alma nua" na sua mão. 

O "Paraíso" e o "Inferno" ocupam o quinto registo, em forma de predela. À direita, três anjos empurram os condenados para o precipício, uma gruta inflamada, onde são mordidos por uma enorme serpente. No lado oposto, a Virgem orante no meio dos eleitos e no centro da Jerusalém Celeste. Aos pés do muro, como sentinelas, estão as duas encomendatas da obra: "A Senhora benedita, serva de Deus, e a Abadessa Constança".


Entre o quarto e o quinto regiostos, constam os nomes dos pintores autores deste Juízo Final: "João" e "Nicolau".


MAIESTAS DOMINI (Majestade do Senhor)

APÓSTOLOS CRISTO SALVADOR APÓSTOLOS




                                                  Jerusalém Celeste                           Inferno


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