Tríptico Portinari





:: Título da Obra ::

Tríptico Portinari


:: Tema ::

Adoração dos Pastores na Natividade do Senhor


:: Encomenda :: Data :: Destino ::

Encomendado ao pintor flamengo Hugo Van Der Goes por Tommaso PORTINARI, representante dos Médicis em Bruges, em 1474-1475. Destinava-se à capela familiar da igreja de S. Egídio, em Florença, onde permaneceu até ao final do séc. XV. Hoje, pode ver-se na Galeria dos "Uffizi", em Florença.


:: Autor ::

Hugo Van Der Goes
Admite-se que tenha nascido na cidade flamenga de Gand. Desconhece-se a data precisa do nascimento, que poderemos situar próxima de 1440. Em 5 de Maio de 1467 foi apresentado à Academia de S. Lucas de Gand, onde atingiu o grau de Presidente. 

No momento em que gozava da confiança dos seus colegas pintores e quando menos se esperava, encaminhou-se para a vida monástica e ingressou na Abadia agostiniana de Rouge-Cloître, em 1475. Graças à crónica do monge Gaspar Ofthus, podemos acompanhar a sua vida quotidiana na abadia, onde nunca deixou de pintar. Chegou a receber a visita de vários mecenas, como Maximiliano da Áustria. Outras vezes foi convidado, como artista-perito, para fazer a avaliação de obras artísticas.

Tudo leva a crer que foi torturado por uma crise de fé, crise essa que foi progredindo de ano para ano. O exame atento dos seus quadros corrobora plenamente esta suposição. No regresso de uma viagem a Colónia, em 1481, Hugo Van Der Goes perdeu, por completo, a razão. Apenas a música lhe proporcionava alguns momentos de tranquilidade. Mas a doença do monge-converso foi-se agravando até à sua morte, em Rouge-Cloître, no ano 1482.


:: Personagens que integram o tríptico ::

Um tríptico é uma obra que consta de um Painel Central ladeado por uma "aba", também pintada, de cada lado. Essas duas abas que abrem e fecham são chamadas Volantes. Este tríptico de Portinari tem as exuberantes medidas de 6m x 2,5m.


1. Painel Central:

- Menino
- Maria
- José
- Anjos
- Pastores
- Boi e Burro


No plano recuado:

as duas parturientes, Salomé e Zeloni que, segundo a tradição, assistiram a Virgem no parto.


2. Volante Esquerdo:

No primeiro plano: 
o doador, Tommaso Portinari; os dois filhos António e Pigello; S. Antão e S. Tomé, santos protectores da família.


No plano recuado:

S. José ajuda a Virgem Maria, grávida, a vencer as dificuldades no caminho para Belém.


3. Volante Direito:

Sob a dupla protecção de Santa Margarida e Santa Madalena, estão representadas, de joelhos, a esposa do doador, Madalena Baroncelli e a sua filhinha Maria. 


No plano recuado:

os Reis Magos, seguidos dos seus servos, que avançam em direcção ao estábulo.

:: Notas iconográficas ::


O MENINO

Não aparece enfaixado, como na época medieval. Por influência da "visão de Santa Brígida" e das "meditações" de Giovanni de Caulibus, é representado como um neo-nato, nu, irradiando luz e colocado directamente no chão, sobre palhas.


VIRGEM MARIA

Não é representada deitada na cama, mas de joelhos, mãos postas, em atitude de oração, perto da coluna em que se apoiou para dar à luz, segundo a versão de Giovanni de Caulibus: "A Virgem levantou-se durante a noite e apoiou-se numa coluna. José trouxe um pouco de feno e espalho-o por terra e o Filho de Deus, nascido do ventre da mãe sem causar qualquer dor, jaz no feno aos pés da Virgem". 


Maria veste uma túnica azul, cor da Virgem. Não cobre a cabeça com o véu, igualmente como sinal da sua virgindade. Com efeito, o véu era próprio de mulher casada ou viúva. 


S. JOSÉ

Contrariando a representação medieval de um homem envelhecido, apoiado no bordão e a dormir, S. José está aqui vestido de túnica castanha e capa vermelha e aparecendo totalmente integrado na cena, numa atitude muito digna, de pé, de mãos postas, associado à adoração comum. 


OS ANJOS

De proporções mais modestas que o resto das personagens, estão vestidos de túnicas multicolores e capas de "asperges" (usadas para liturgias processionais e adoração). 
Os habituais anjos cantores e instrumentistas da Natividade do Senhor, foram substituídos nesta obra por "anjos-monges", em silêncio, de mãos postas, em profunda adoração.

:: Elementos Simbólicos ::


- A RUDEZA DAS MÃOS


Do ponto de vista anatómico, Hugo Van Der Goes distanciou-se das formas elegantes e delicadas dos artistas flamengos da época, e acentuou o carácter rude dos seus personagens, com particular atenção no tratamento das mãos: os rudes pastores têm as mãos grossas, dedos rugosos e nodosos. 

Da mesma maneira, o autor não hesitou em dar à própria Virgem Maria as mãos de uma mulher do povo, pobre e laboriosa. Mais do que ressaltar a beleza feminina, ele pretendeu dar-nos uma imagem da Virgem mais real, próxima e acessível, e glorificar a sua condição humilde.


:: Nota iconológica ::
Habitualmente fechado, o tríptico era aberto, apenas, nos dias de grande festa. Nesses dias, sim, os fiéis tinham oportunidade de usufruir da beleza artística da obra e penetrar na riqueza da mensagem transmitida pelas imagens.

Fechado, o tríptico encerrava quer o painel central quer o interior dos dois volantes. Nas faces exteriores do tríptico fechado, a mensagem inicia com uma cena de "Anunciação" em grisaille (técnica de pintura monocromática), que funcionava como um exórdio e porta de entrada do mistério contido no interior.

Aberto o tríptico, a atenção centra-se, principalmente, no painel central que contém a essência da mensagem que Hugo Van Der Goes nos quis transmitir na sua "Natividade": composição circular, que envolve todos os intervenientes; paleta particularmente fria (violeta e azul); figuras monumentais, dispostas em rigorosa jerarquia e, sobretudo, a concepção revolucionária da rudeza dos personagens.

Se tivéssemos de escolher uma palavra que definisse o conjunto, não duvidaríamos: "Adoração". Adoração silenciosa e monacal por parte de Maria, José e os Anjos, e adoração sofredora pelos três pastores que, com o Menino, constituem a atracção da obra. Estes pastores, animados por uma fé rude e selvagem, são um sinal de espera pela humanidade sofredora da Redenção. Toda a sua esperança está centrada no Menino para quem olham e sorriem infantilmente. 

D'Ele esperam a Redenção, envolta em sinais de dor e sofrimento nas flores da paixão e da faixa de trigo.

O grande protagonista da cena é o Menino, que se converte no ponto de fuga de toda a composição: arquitectura, a Virgem, S. José, Anjos e pastores, tudo converge para o Menino desamparado no chão. Todos O adoram e d'Ele esperam a Redenção.








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